terça-feira, 29 de novembro de 2022

Poema paliativo


Olhei todas minhas fotos uma por uma.

Meus olhos morreram nos últimos meses.

De um ou outro sorriso distraído,

só vi um vulto atrás de multidões.


Estou apagando aos poucos

vou embora aos poucos


Paliativamente deixei de regar as plantas

nem percebi.

Ninguém vai perceber.

sábado, 30 de julho de 2022

Hyakkimaru, você é melhor que eu jamais serei.

 

Acabei de assistir "Dororo". História originalmente escrita por Osamu Tezuka (mesmo autor de Astro Boy) em 1967 e animada pelo estúdio Mappa em 2019 (tendo também uma animação em 1969).
Que obra linda, na moral, cruelmente linda. Uma obra onde 100% do tempo somos lembrados que não há vencedores dentre aqueles que lutam em uma guerra e de longe o mais afetado sempre é seu povo, quanto mais humilde mais afetado.

Uma coisa que ODEIO em animes e dramaturgia em geral é a necessidade forçada de uma redenção, mas olha só que surpresa, Hyakkimaru é o primeiro personagem que me fez ter alívio em sua redenção, não pelos seus atos que são completamente justificáveis, mas sim em seu próprio coração, para ter paz única e exclusivamente consigo mesmo (mas se ele resolvesse descer a lambida no pescoço até do imperador eu já estaria com o pano pronto pra passar pra ele).

Osamu Tezuka odiou escrever essa obra, ele queria algo leve e acabou "pesando" a mão, e que bom que pesou, não havia outro modo de retratar a miséria da guerra e suas vítimas. Recomendo fortemente, especialmente pra você, sim você, que assim como eu tem um coração, um passado e um presente injustiçado por motivos que te fogem a compreensão. Avante para o futuro.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

De repente

Da uma vontade fudida de cortar os pulsos de novo. 
Só de zoeira.
Só porque eu mereço. 
Só para ver se consigo sentir algo.
Só porque eu mereço mesmo.

Só isso mesmo.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Ônibus 666, do inferno ao infinito e eterno nada.


Hoje eu fiz uma lista com o nome das pessoas que vão estar menos se fodendo no dia em que eu finalmente me suicidar (perceba que eu disse "no dia que" e não "se eu me suicidar um dia"). Só tem um nome por hora, ele vai ficar bem aliviado na verdade, sobre o quanto minhas "escolhas" vão deixar de afetar sua perfeita vida. E isso é um sério problema, gente perfeita demais. Vidas perfeitas, feriados de reunir a família para mostrar o quanto contrariando as estatísticas você venceu e se tornou um ser melhor (mas depende do horário, a partir das 16h é horário de gente perfeita estar na cama, sabe?), paredes perfeitas de suas casas perfeitas em breve com crianças perfeitas, feriados separados na casa da mãe, opa.

Enfim, aparentemente minhas desordens mentais são um pedido de atenção. Minhas três overdoses foram falta de rola, aparentemente (duas foram suicídios mal sucedidos por não saber calcular direito a dose fatal dos remédios, alô Professora Marcia, quem diria que sentiria falta de prestar atenção em suas aulas de matemática, sua malcomida, ridícula do caralho).

Sabe o que é um pedido de atenção? É quando eu me calo por semanas tentando fazer as vozes na minha cabeça pararem de me dar ideias que venho flertando desde criança. Não houve um único dia em literalmente toda minha vida a partir dos 9 anos de idade em que eu não tenha tido vontade de me jogar debaixo do ônibus. Eu tenho muita certeza que ele está vindo me buscar, muita certeza. Certos dias posso ouvir o som de seu motor, a quentura de sua fumaça tóxica, tenho quase certeza que determinados dias é ele quem me da um empurrãozinho. E eu só quero que me jogar logo debaixo dele. Eu quero muito. Quero demais. Dói o quanto quero que ele me leve de uma vez.

Eu só quero morrer de uma vez e acabar com essa frescura.
Dai em diante, vão ser uns dois anos de tristeza para minha namorada, menos tristeza que eu a faço passar todos os dias, antes que aquele cara muito foda da medicina apareça e de tudo que ela merece e secretamente deseja.
Uns dois meses de miados do meu gato, quanto de memoria um gato pode ter?
Uma eternidade de absolutamente nada para mim, não há inferno, não há nada, esqueça.
E um suspiro de alívio para você, que tem muita certeza que alguém mutila seu próprio corpo para chamar atenção.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Ensaio.

Os primeiros cortes.
Daqui a pouco a gente passa um geralzão e encerra o processo em local a definir.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Não vai haver homicídio.


Eu vou matar esse filho da puta que se esforça para arruinar a minha vida.

Não tenho medo das consequências. 
Não tenho medo da cadeia.
Não vai haver cadeia
Não vai haver homicídio. 

Não há outro modo.
Não paro de pensar nisso um dia sequer pelos últimos dez anos.
Não vai haver homicídio

Suicídio. 


segunda-feira, 30 de abril de 2018

Lembrar de você.

O último trem passou e eu não o peguei. Fiquei lá, sentado no escuro na estação, não é a primeira vez que fico sentado aqui sozinho, ambas as vezes definitivamente precisava pensar sobre o que ocorreu e sobre todos os não ocorridos. Duas vezes no mesmo lugar, uma vez foi triste mas foi esperado, a segunda vez foi inesperado, mas foi só uma pena.

Sabe aquele livro? Eu descobri que uma página dele vai ter sempre um buraco, um pedaço de história mal contada, onde apenas o vilão foi triste e o canalha saiu ainda mais feliz que na história anterior e isso sim foi novidade.

Sabe... Pode ser que essas páginas que ficaram mal escritas continuem mal escritas e pode ser que esse livro seja só mais uma ideia idiota que vai se somar a todas as outras ideias idiotas, pois assim foi minha literatura, uma sucessão de ideias idiotas e mal escritas.

Pode ser essa seja a última vez que escreva na vida, minha cabeça, sabe, ela... um dia ela vai... e talvez seja melhor pra todo mundo... De todo modo, me perdoa pelo que eu possa fazer quando eu não lembrar de você. 

sábado, 10 de março de 2018

Estou me coçando de vontade de acabar com essa vida sem sentido (de novo), dai sentei para escrever e lembrei que de todas as milhares de coisas que a depressão me tirou, uma das mais importantes foi minha capacidade de ler, escrever e interpretar um texto. Então aqui estou, parado de frente a essa merda e apenas lembrando que a vontade de morrer é o que me mantém vivo.

Que nojo do que fui, mais nojo do que virei e mais nojo de tudo que possa vir-a-ser.

domingo, 17 de setembro de 2017

Eu amo tanto quando ele me fode.

    

    Não sabia que horas eram quando ele chegou, ou melhor, voltou. Não sei quando ele vem, quando sai, quando vem foder meu rabo bem gostoso e passar meses me comendo de má vontade, ainda que coma todos os dias. Hoje ele simplesmente apareceu. Estava sozinho em casa, não sabia o que fazer, não consigo apenas dizer não a ele. Desculpa a bagunça, não se incomode com os gatos, já já eles vem pedir comida e se esconder de novo. Sabe... Eles te odeiam por algum motivo, você deve ter feito alguma coisa ruim que os assustou.
    Não sei o que ele queria dessa vez, muito pelo contrário,  queria eu saber algo sobre ele. Um passado de estúpido, um filho morto, algo sobre uma sequência de estupros. Digo, ao menos foi o que ouvi dizer por ai, as pessoas dizem muitas coisas, sabe? 
    Eu tenho um pouco de dó de você. Ficava ali me encarando com aqueles olhos castanhos opacos, parece a mais fofa leitoa que foi para o abate e jaz dependurada de ponta cabeça ainda pingando chouriço no abatedouro. Tem algo de mágico em todo esse vazio, em toda visita esse poço de apatia rapidamente se cobre de um ódio tão violento, puro e descontrolado. Puta que pariu! Como isso me da tesão! Da essa vontade louca de deixar que ele esprema meu pescoço até as forças me abandonarem. Ele me deixa tão vulnerável, tão pequeno, tão... tão. .. triste? Ele nem sabe porque sente todo esse ódio e muito menos porque  o desconta em mim. Acho que nem quero saber. Ah, meus Orixás, perdoem-me, mas eu amo tanto quando ele me fode!
Tomamos café, como homens adultos fazem, nenhuma palavra trocada, apenas olhares de constrangimento e saudades, nenhum pingo de afeto foi derramado naquela mesa.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Minhas facas da tramontina =D



Eu não posso ter em casa:

Gravatas
Cordas
Cintos
Cordões
Revólveres
Veneno
Remédios
Calmantes
Bebidas alcoólicas
Drogas
Canivetes
Plantas tóxicas
Janelas altas

E mais uma série de coisas que ainda não pensei a respeito.
Por sorte não tenho nada disso.
Só tenho motivos
Medo
E facas Tramontina.

Eu vou me matar.

=)

sábado, 10 de dezembro de 2016

Eu não sou assim. Eu quero morrer. =)

      

    Eu uso drogas. Todas prescritas, todas caras. Receitas azuis que ficam retidas com o farmacêutico,
ele sempre me olha torto a cada inicio de mês quando vou comprar os remédios logo após as consultas com a psiquiatra. Não é culpa dele. Olhos inchados, olheiras, cabelos arrepiados e sujos, eu pareço um artista comum ou uma pessoa muito estranha, em fato, cada dia mais pareço uma árvore doente, acho que vou ficar parado na esquina até criar raízes; pombos nojentos cagarem na minha cabeça; playboys com suas cabeças infladas de ego e farinha vierem perguntar se sou eu que estou passando; idiotas, se eu estivesse passando não teria só duas bermudas na gaveta, ambas rasgadas por minha coxas enormes e flácidas que só servem para amassar meu saco dentro da minha única calça jeans. 

   Enfim... Eu não posso beber, um bom e velho hábito, mais bom que velho, caso eu beba os remédios supostamente ficam potencializados e podem vir a causar uma overdose, teoricamente, claro. Não posso misturar outras drogas e a nojenta da psiquiatra insiste todo mês em perguntar: Mas você já usou drogas? NÃO, SUA PUTA! Dai faço cara de paisagem e respondo com um "não" quase inaudível, como tudo que sai da minha boca. Sussurros, suspiros, ensaios de um devir que nunca virá a ser. Exatamente como eu. Nunca virei a ser.

   Como dizia, eu uso drogas. Odeio cada uma delas, sempre odiei. Só de pensar no próximo comprimido, na próxima troca de dosagem, eu quero enfiar as mãos na minha boca e me rasgar de dentro pra fora, eu quero gritar, quero cuspir sangue, vomitar.

    Essas duas últimas semanas eu deixei o horário de cada droga atrasar por duas horas. Eu sequer conseguia levantar o dia todo e cada dia era muito pior que o outro e mesmo esses dias não eram nada comparados as duas horas em que deveria ter tomado os comprimidos farinhentos e amargos.

    As vezes eu fico tão dopado que saio sorrindo pela rua, dando bom dia, respondendo as idiotices que as pessoas falam. Chego até a esquecer como é um dia ruim.

Eu não me reconheço nisso.

    Esse não sou eu. Eu sempre fui escravo de putas velhas e desdentadas, acho que eu gosto desse cheiro de pinga e suvaco no beijo delas. Atualmente a depressão é a puta que manda em mim. Não sei se foi culpa das demais ou se sempre foi ela que me fez o que sou.

Eu não sou assim.
Eu quero morrer.

=)

domingo, 27 de novembro de 2016

Se tu prescrevesses.


São quatro drogas
Duas são parecidas
mas não podem ser trocadas

Veneno para dormir,
veneno para acordar
veneno para dormir para sempre
Veneno.

Continuo com nojo do espelho
os remédios não funcionam
são paliativos
impedem que eu me mate
prolongam a dor
Até a sua morte tem de ser protocolada
nem minha própria vida me pertence
Pertence as jovens residentes de qualquer Santa Casa
uma por mês, uma mais linda que a outra
só uma se importou o suficiente,
foi mandada embora.

Tive medo.
Tenho.
Terei.


domingo, 26 de junho de 2016

De um ator sem talento à Dionísio.


Nos andamos juntos por uns bons pares de anos.
Você me salvou da solidão certa
eu te salvei do ostracismo, da mesmice,
de todos que fazem mal uso de seu nome.

Estudei-te, fui teu
e você foi meu bem mais precioso.

Mas você está me enlouquecendo.
Eu não sei aonde foi que nos perdemos,
onde foi que você se vendeu 
enquanto eu te reverenciava sagrado.

Mas agora você parece só "um rolê"
e só ama quem é dos seus
e eu te amo.

Você se vendeu
Não posso te pagar.
Fechem as cortinas.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Eu tenho nojo de mim.



Daqueles dias mais cruéis que aquele pé na bunda que você tomou quando tinha doze anos e nem sabia ainda o gosto que uma boca cheia de glitter cor de fanta pode ter.

-Eu quero mais é que você se foda, seu cu pegue fogo e tentem apagar com querosene.
- Mas eu só preciso de atenção.

Toma ai tua atenção, todo mundo está de olho em você, todo mundo se preocupa, até te ver cuspindo seu fígado preto, fétido, cheio de pus e rancor. Eu quero mais, quero é o estrago, quero saber até onde essa cabeça doente chega.
Verdadeiramente não importa meu estado. O que importa é que esteja conforme o julgamento daqueles que julgam ser capazes e dignos de julgar. Ninguém se importa e é engraçada a maneira humilhante a qual eu pateticamente peço ajuda.

Um sorriso idiota, uma piada forçada que ninguém acha graça.

- Ele voltou ao normal, podemos fingir agora que nada disso aconteceu.
Mas aconteceu. E acreditem amiguinhos, ainda está acontecendo, minha cabeça jamais vai perdoar ninguém, principalmente a mim mesmo, meu pior inimigo, o maior fracassado, perdedor, patético ser humano que já existiu.

Sim, tudo que sinto por minha existência é o mais puro e mais sincero ódio que se pode sentir. Não é sua raivinha, não é seu ciuminho, tenho é nojo de sua raivinha estou certo do seu charminho e mais certo ainda da vontade de vomitar quer sinto toda vez que olho no espelho e me deparo com essa cara inchada, que mais parece um defunto de alguém que bebeu  a vida toda, foi jogado no  mar e foi finalmente rejeitado pelos camarões. Desse corpo nojento, que não cabe em lugar nenhum, em corpo algum, tudo isso sobrando e eu perdido, quase sufocado em si mesmo.
 Quero me matar com bebidas e drogas pois sou covarde demais para me jogar do quarto andar e acabar com isso só com um friozinho na barriga e um leve estalo no chão com sangue voando para todos os lados. Eu não quero acordar respirando amanhã, é simples assim.

 A saúde é uma ilusão que nós, doentes imundos temos em relação a vocês, pessoas tão perfeitas, tão donas de si, tão melhores do que eu. Tão melhores, não fazem ideia do quanto é seu direito pisar na minha cabeça e cuspir na minha cara o quanto seus corpos e suas mentes fazem amor entre si e com outras mentes.

Vocês realmente não fazem ideia da benção que lhes foi concedida pelo mesmo deus que sequer existe e ri de mim todas as noites enquanto enche minha cabeça de pesadelos e lembranças. Não fazem a menor ideia do que significa a palavra doença.

Quanto a mim. Vou pregar um sorriso bem grande na minha cara com um grampeador e amanhã, todos aqueles que tanto têm a certeza do julgamento vão olhar e mais uma vez:


- Ele voltou ao normal, podemos fingir agora que nada disso aconteceu.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Deixe-me dormir.



Ela me deu e tirou tudo.
Deu apenas o que sempre foi meu,
essa poesia e esse blues.

Pintei o nariz, as mãos e os olhos,
mas seu fantasma sempre mal enterrado está lá.
E você vai me levar.

De volta a nosso lar.
Nosso delicioso beiral do quarto andar.
É lá que minha intima e sufocante dama vai estar.

A dama de meus pesadelos favoritos.

Mas eu estou bem.
Estou me aguentando.
Não vou fazer isso hoje.
Preciso de ajuda...

sábado, 19 de março de 2016

Animal defeituoso.




Vá se tratar!

Todas elas me gritaram ao fim de cada noite perdida. De cada noite sozinho. Sozinho em multidão.Ah, como isso é cruel. Gente que grita demais para se convencer que não vão morrer sozinhos. 

Minha mãe me ensinou a não falar com a boca cheia de certezas. É nojento. Cuspam ou engulam esse ego antes de falar.

Não existe lugar para gente como eu na sociedade. A depressão é uma doença de gente rica. Terapias e remédios custam tempo e dinheiro. Não tenho nada disso disponível. A nós pobres, só nos resta a bebida e o suicídio, cada qual também requintado conforme seu dinheiro se dispõem. 

Vocês todas, jovens putas, frescas e bêbadas, cobram-me para que eu esteja bem, feliz e produtivo todos os dias Cobram-me para que eu enfie na cara o mesmo sorriso de desespero que todas vocês ostentam, o mesmo sorriso que todo suicida da na sua ultima talagada de conhaque. Eu cobro-me para resistir a tentação de me jogar debaixo do metrô todos os dias. Mas não mais. Nunca mais. Sem a velha nóia, sem preocupação, sem dor, sem arrependimentos, sem humilhantes lágrimas. Humilhantes.

E por fim, eu me recuso a viver em um mundo tão perverso que te julga e te apedreja por ser fraco aos olhos do belo. Despeço-me aqui. Animal defeituoso que sou, peço desculpas pela bagunça.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Estou cansada dessa merda.



Eu não sou assim.
Eu não sou legal.
Eu não faço parte desse mundinho de gente que sorri.
Quando sorrio é para driblar as perguntas que me levam ao desespero.
Só preciso de um minuto a sós com esse chamado deusinho que me colocou no mundo.
Dois minutos longe de todos vocês que são sim, responsáveis por isso.
Uma vida longe de mim,
O drogado que alimenta e gosta disso.

Sim. Eu gosto de morrer.
Bem devagar.
Divagando.
Bem
De
Vagar.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Não me chame para a selfie, não estou e nem sei sorrir. Não proclame sua felicidade forjada perto de mim, sinto o cheiro do desespero em suas mentiras e precipitações.
E cá entre nós. Nunca farei parte desse mundinho de Barbies e Rambos, gente que não existe.
Eu vivo em cada segredo e confissão ditas pelo alcool, drogas e tesão.
Eu sou a puta barata na esquina da Consolação pela manhã, com a bolsa cheia de esmolas, a boca cheirando a cigarros, gin com tônica e látex.
Quero o imundo, o escatológico, o podre, o marginal.
Menos dos Campos Elísios, mais da Tiradentes. Menos da Tiradentes, mais da Roosevelt. Menos do ego, mais do poético.
Menos do ego, meus amigos. Menos do ego.

Infusão


Janelas idiotas.
Deixam a luz passar mas não o ar.
Afogam-me.
Engraçado.
Os mesmos remédios que mantém minha cabeça longe do pneu do ônibus,
podem me fazer dormir por tempo indeterminado, conforme sua fé ou falta dela.
Não há lugar para mim no seu reino de anjos e gente virgem.
Tão pouco no inferno de pessoas como eu e você.
O inferno é aqui e nada me espera depois disso. Nada.
E é esse o alívio.
Perdi tempo demais lendo livros que me ensinaram a dar tudo de mim.
O segredo é sorrir!
Ainda que tenha vontade de dar uma marteladinha na cara de quem muito sorri e ver sua expressão caindo em cacos.
Eu sei onde mora a lágrima, ah se sei.
Não aprendi a viver, sequer aprendi a única coisa que sei fazer direito.
Não sei lidar com isso,
nunca soube.
Não vou conseguir.
Não tem problema.
Não vou acordar.
De cacos, todos somos mármore,
essa xícara não aguentou.
Não gosto de chá quente demais.

Tudo é jazz.


É isso.
Os remédios não funcionam.
A bebida nunca funcionou
e os cigarros acabaram.

Aqui do quarto andar seus problemas parecem menores, mais indolores, é só cortar uma cordinha, uma quedinha, alguns ossos quebrados e pronto. Silêncio. O som de choro, essa é a vizinha de cima, meus problemas só não parecem menores que os do vizinho de cima que bate em sua esposa quando quer descontar sua própria lamúria, ou o outro vizinho, o que toca sax as oito da manhã, esse sabe viver, acorda cedo sonhando com o dia em que vai passar todas as noites em claro, tão bêbado e drogado que não vai lembrar de quem é a cabeleira em seu travesseiro ao acordar. Esse é o Jazz.

Eu só bebo as vezes.

Por falar em vizinhos, moro em frente a mais três prédios, todos com as janelas viradas para dentro, todo mundo compartilhando sua intimidade em sua janela. Eu venho para a janela para escrever, tem quem venha transar, tem quem só vem a janela para as incessantes faxinas que sempre ocorrem antes de se acender a luz vermelha. E tem aquela galera da igreja, que vem rezar todos os finais de semana por todas as nossas almas, com seus aparelhos de som que podem ser ouvidos claramente da minha cama ou da cama da minha mãe, ou da cama da minha avó, ou da cama da puta que nos pariu.

O sangue de Jesus tem poder. Pois venha logo, leve todo mundo para o paraíso e nos deixe aqui de boas. Esse é o céu. No meio da nossa sujeira. Nossa, muito nossa.

Mas tudo isso é segredo. Ninguém precisa saber que eu venho para a janela para chorar quando não há ninguém em casa.