segunda-feira, 21 de março de 2011

Anjo de Concreto...

Sentado em mais um meio-fio, entre tantos meios-fios dessa meio-cidade, meio- hospício, meio-prisão, meio-convento e meio puteiro...

Entre um soar e outro de sirene, entre um e outro disparo de fuzil, entre uma e outra vida que se dispede, o menino pergunta a Deus...

"Quando o vento bate no rosto... é porque ele quer conversar?


Eu também sou negro?

Política de cotas para negros? Quer dizer que aquele meu velho amigo de escola que estudou exatamente as mesmas coisas que eu, que comia o mesmo ovo cozido preto na merenda que eu, que cabulava aula chata junto comigo na sexta-feira, que dormia nas mesmas aulas chatas que eu dormia e por acaso tirava as mesmas notas que eu tirava. Por acaso ele é menos qualificado que eu para oferecerem "cotas" a ele apenas pelo pequeno detalhe que é a cor da pele dele?
Será que tudo aquilo pelo que nossos antepassados escravos e ex-escravos lutaram para evitar essa segregação entre brancos e negros foi em vão?

Quem afinal decide minha cor? Segundo meus bisavós espanhóis, italianos e alemães eu sou branco, barão do café e senhor da senzala, mas segundo minha negra vó Rita, eu sou brasileiro fruto da miscigenação assim como todo brasileiro também é!

Sou morador da periferia leste de São Paulo, ganho pouco, tenho o nariz de batata e meus cabelos não são exatamente lisos... em outras palavras, segundo a política de cotas eu sou negro até o momento em que colocarem os olhos no pequeno detalhe que é minha pele branca...