domingo, 30 de dezembro de 2012

Logo mais, tudo estará em paz.





Sabe o que é irônico?
Eu não vou ter coragem de olhar novamente em seus olhos
De saber o que está fazendo e com quem está fazendo.
Você vai me achar nojento logo mais
E tudo estará em paz.
E tudo estará em paz.

Não é a primeira vez,
não será a ultima.

Não amor,
não adianta negar
essa cena vai se concretizar

Em breve estará em paz
em breve seu sonho se realizará
seu príncipe ai estará
E eu como o sarnento que sou
vou apenas me coçar
apenas me coçar.

Não adianta chutar um cachorro morto
Não adianta não.
Vai me achar desprezível logo mais
E tudo estará em paz.
E tudo estará em paz.

Palavras rasgadas não são bonitas.


Ia escrever um monte de linhas inúteis aqui
com meia duzia de palavras bonitas,
tentando te fazer algum mal, amor.

A beleza das palavras é corrosiva,
são só palavras bonitas,
palavra bonita alguma levou-te ao altar.

Ao contrário...
Causam dor...
Não, amor meu.

Causam dor a quem as escreve
as diz
as vive
aposta alto nelas
tem orgulho delas
e conta os dias para grita-las ao mundo.

Sequer há poesia no peito do cachorro sarnento,
pelo contrário
sua poesia onde anda?
Sua musa deve estar...
não é da minha conta.

Meras palavras bonitas e bem colocadas
são palavras quentes,
quentura onde há?
Quentura não há. 
Esqueci que esse peito quente não é meu
confundi nossa carne,
desculpe.

Só ficou esse busto frio...
essa mesma cara de paisagem para evitar questionamentos.
Minhas mãos que andam tão vazias,
como elas encaixaram tão bem com as suas?
Como pode isso?

Foi amada...
Ah foi...
Enquanto permanece essa dor é sinal que ainda o é.
Ah.. o é...

Não se arrependa de sua escolha,
eu já estou fora de cogitação,
não me faça estar certo novamente,
não me faça ter certeza de que o amor apenas se manifesta quando se tem medo de perder
não me faça desconfiar que ações são apenas palavras desesperadas.
Que promessas são apenas ações desesperadas
Não me faça confirmar que qualquer homem se torna um Sir com a iminência da perda da amada.
Não, não me faça confirmar isso
eu quero estar errado,
amo estar errado.

O que faço com essas mãos que viciaram em segurar as suas?
O que faço com esse peito que viciou no calor do seu?
O que faço com esse poeta que não consegue juntar meia duzia de palavras
para desesperadamente tentar te convencer?
Ah amor que não mais me pertence
se é que pertenceu.
 O que eu faço?

"Eu quero que você viva."
Me disse meu pedaço vivo
Sabendo que nunca mais vou encarar seu bonito olhar.
Seu bonito olhar...
Seu ridiculamente bonito olhar que me faz sorrir...

Não gaste suas lágrimas, ok?
Quem está a sós aqui sou eu.
Gaste as minhas
e lembre que elas não existem.

Em seu mundo elas não existem,
em meu mundo elas são só um apanhado de palavras rasgadas
e bonitas.
Como seu olhar...

sábado, 22 de dezembro de 2012

A priori.


Sempre é uma resposta,
sempre é o mesmo canto imundo do quarto,
o canto imundo do coração.

A mesma bebida barata,
a mesma dor ácida,
a mesma insônia.

Até gosto de vocês, 
meus inseparáveis amores.

Chegara a conclusão que não tem nada haver com seu corpo
não nascera Apolo,
 sabe disso como ninguém.

Nos mesmos átrios escarlates de pura sensibilidade
afirmava sua fraca cor vermelha com o vinho que Dionísio o conceberá com tanto bom gosto.
Meus átrios... Como doem...

Qual o problema então?
Ou melhor!
Que solução é essa que tenho e não sei?

Havia algum par anos já,
qual o motivo de aliviarem sua dor comigo?
Isso está errado!

Eu que sinto dor...

Teu pedaço de redenção mora no meu perdão,
meu pedaço de redenção mora em teu eterno.

Entendo...
Não te dou tua redenção,
teu pecado é grande demais!

Em troca...
não da-me a minha...
não pediria por redenção se tivesse entregue a minha a priori.

É só carinho,
não é tudo isso.
A é...
é sim...

É tudo
e mais um pouco.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O maniqueísmo no melhor dos mundos.



Analisemos então a obra de Voltaire “Cândido ou o Otimista” a partir do dualismo proposto pelo maniqueísmo. O maniqueísmo de modo resumido pode ser tratado como a divisão entre bem e mal, o personagem Martinho se diz o ultimo dos maniqueístas apesar de sua visão de que seria infeliz estando aqui ou estando ali, nota-se no comportamento da personagem uma variação quanto ao pensamento maniqueísta, pois tudo pode ser bom ou pode ser ruim, pois existe um Deus bom e um Deus ruim, ambos os lados da moeda estão em jogo na visão maniqueísta.
O melhor dos mundos é um mundo falacioso, provindo de uma mente infantil, infantil no sentido da falta de experiência do filósofo Pangloss (ou Leibniz), pois a crença de que este é o melhor dos mundos até pode ser justificada, diante da possibilidade de não se existirem outros mundos além do qual vivemos, nesse caso vivemos sim no melhor dos mundos, entretanto é muita inocência acreditar que esta tudo do melhor modo possível no melhor dos mundos possíveis. Temos então uma posição devidamente conformista dos fatos, um modo de fuga da própria responsabilidade diante da própria existência, a qual tem possibilidade de ser boa ou má, tudo depende do próprio ser que toma ou não as rédeas do seu destino. Candido por mais de uma vez, teve a opotunidade de tomar para si as rédeas de sua vida, como em sua passagem com Cacambo por El-Dorado, em que ele volta absurdamente rico e vai gradualmente perdendo suas riquezas devido a sua inocência e sua fé de reencontrar Cunegundes e mostrar a Martinho como tudo esta caminhando para o melhor possível, pois não pode ser de outro modo que não o melhor, não é necessário narrar o quanto Martinho estava correto em sua visão e deixou acontecer toda a sorte de acontecimentos com Candido que se deixou levar pela fé na filosofia de Pangloss.
O maniqueísmo no sentido ateu da palavra é uma boa causa primeira e ultima a toda sorte de acontecimentos nesse ou no melhor dos mundos.

El-Dorado. Um pedaço do melhor dos mundos possíveis.



Vivemos no melhor dos mundos possíveis, pois existe um Deus que é o melhor Deus possível, que faz as coisas do melhor modo possível, portanto não há como haver mundo melhor que esse. A partir desse pensamento difundido pelo filósofo Pangloss, Cândido (só sendo muito Cândido para pensar assim) o qual provavelmente é um filho da irmã do barão de Thunder-tem-tronckh com algum nobre fidalgo da região, é criado na distante província da Vestfália, no castelo de Thunder-tem-tronckh e de fato prega e acredita que tudo está certo, afinal, este é o melhor dos mundos possíveis.
Cândido é criado a sombra dos ensinamentos do filósofo Pangloss, o qual foi concebido por François Marie Arouet ou Voltaire (Paris, 21 de novembro de 1694 – Paris 30 de maio de 1778) como a imagem e semelhança do filósofo Gottfried Wilhelm Von Leibniz (Leipzig, 1 de julho de 1646 – Hanôver, 14 de novembro de 1716), em especial a sua teoria do melhor dos mundos possíveis, onde tudo está do melhor modo possível, pois existe um Deus que é o melhor Deus possível e fez as coisas do melhor modo possível, entretanto essa teoria vai por água durante toda a trama, pois em um mundo perfeito não existe espaço para o mal, a maldade ou pessoas maldosas, podemos notar como Cândido é amplamente enganado durante a obra e ainda assim continua com sua fé nos ensinamentos de Pangloss inabalada.
Entretanto, não vamos falar sobre a rotina dentro do castelo de Thunder-tem-tronckh ou de aspectos filosóficos aprofundados. Falaremos aqui de um aspecto político da obra e do que talvez seja um pedaço do melhor dos mundos possíveis, o país de El-Dorado.
El-Dorado é um pedaço da civilização Inca, que não foi destruída pelos colonizadores espanhóis. Um trecho do mundo onde a lama do país é composta de ouro, diamantes e pedras preciosas. Uma nação onde se comem colibris e urubus com toda a naturalidade do mundo (não que isso seja importante, apenas ressalto aqui as diferenças culturais). Candido e Cacambo são bem recebidos o tempo todo em El-Dorado, desde a hospedaria que os acolhe e alimenta tudo por conta do governo, até a audiência com o governante da cidade, o qual a considera como um reino muito pobre e humilde. Mas como pode um reino onde as taças são incrustadas de pedras preciosas e as crianças brincam na rua com diamantes e rubis, ser considerado um reino pobre e humilde? El-Dorado é um reino escondido de todo o restante do mundo, o que o torna um pedaço do melhor dos mundos não é o ouro e riquezas em si, mas o fato de ser um país livre de ganância. Ainda sendo pobres, Cândido e Cacambo nunca foram destratados por sequer nenhum habitante de El-Dorado, os quais, mesmo também se considerando pobres, acolhem os dois viajantes que tudo que dispõem. Essa humildade e bom espírito levam o povo de El-Dorado a ser o melhor dos povos possíveis dentro do melhor dos mundos possíveis. Porque afinal o povo de El-Dorado é tão honesto e acolhedor? Não há na obra uma referência direta a esse fato, entretanto, o povo parente dos Incas viveu isolado durante milhares de anos, pode ser uma péssima ideia associar à ganância a colonização e influencia européia, mas esse isolamento pode de fato ter sido a causa dessa inocência prolongada.

A Máscara Social.



O ser humano é sem duvidas o mais fantástico dos animais. Sem garras, presas, veneno ou mimetismo, o homo sapiens sapiens é a espécie dominante do planeta Terra, com índices populacionais cada vez maiores e o único animal com domínio sobre as diversas ferramentas da natureza, tais como o fogo que permitiu a manufatura de armas e ferramentas, tornando assim sua vida mais fácil, tanto na caça, quanto em construir seus abrigos e posteriormente uma sociedade. Graças a seus polegares opositores e seu cérebro altamente desenvolvido o ser humano tornou-se o único animal dotado da razão, raciocínio, reflexão, racionalidade, junto com essas qualidades, o ser humano foi incumbido da árdua tarefa de viver em uma sociedade onde cada indivíduo pensa por si só e de modos que podem diferir completamente de indivíduo para indivíduo, saber como lidar com cada indivíduo é a chave para uma sobrevivência de sucesso.
Dentro da sociedade humana, encontramos mini sociedades, isto é, grupos menores e com características distintas, tais como: família, trabalho, escola, grupo X e grupo Y de amigos, sendo que cada indivíduo que faz parte de um grupo, e parte de um determinado grupo, também faz parte de outros diversos grupos, cada qual com interesses diferentes, contextos diferentes, criações diferentes e pessoas diferentes, a questão colocada dentro dessa convivência com grupos é a seguinte, como o mesmo ser humano se porta dentro de cada grupo? Qual a razão que leva um filho a agir de um modo com seus pais e de outro modo completamente diferente com seus amigos? Qual o motivo de um ser humano ser considerado sapiente ou desprovido de senso sábio em determinado grupo social? Como pode a mesma pessoa ser bem recebida em grupos completamente diferentes?
Não é fácil para um ser humano ser sincero e verdadeiro em todas suas relações, seu verdadeiro eu, sua verdadeira personalidade é uma pérola rara, preservada sob a mais forte concha, protegida do mundo exterior e de todos aqueles que podem utilizar de seus sentimentos mais profundos para os motivos mais profanos. A razão permitiu ao ser humano desenvolver personalidade única, mas muito mais que isso, a razão permite ao ser humano modificar sua própria personalidade conforme a necessidade. Cada ser humano tem um conjunto próprio de máscaras as quais protegem seu verdadeiro ser, sua verdadeira essência.
Para entender como funciona uma máscara, vamos ver um trecho de Patrice Pavis falando sobre a função da máscara dentro do teatro: “(...) a máscara é usada no teatro em função de várias considerações, principalmente para observar os outros estando o próprio observador ao abrigo dos olhares. A festa mascarada libera as identidades e as proibições de classes ou de sexo”, ou seja, a máscara é além de uma proteção para si, um modo de observar o outro, uma máscara liberta seu usuário de julgamentos a respeito de seu caráter, nem sempre uma ação expressa profundidade tal para que se possa julgar a personalidade de alguém e é a máscara quem garante esse anonimato sobre a personalidade de seu portador. “A máscara desrealiza a personagem, ao introduzir um corpo estranho na relação de identificação do espectador com o ator. Ela será, portanto, frequentemente utilizada quando a encenação buscar evitar uma transferência afetiva e distanciar o caráter.”, em uma relação estritamente profissional a máscara serve para criar esse distanciamento, ou em relações baseadas em puro interesse, onde não se há desde o início a intenção de criar vínculos com os demais envolvidos, do mesmo modo que a máscara em sentido pessoal é uma defesa, nesse sentido a mesma passa a ser uma arma de dissimulação.
Entretanto, a máscara social é um vício, o ser humano em sua longínqua razão, aprendeu a mentir e a levar sua mentira a um ponto tão elevado, que a mesma passa a ser parte de seu cotidiano, algumas máscaras acabam por tornar-se parte da própria personalidade do sujeito, assim o próprio criador acaba por confundir-se com a criatura, tornando-se um ser hibrido, causando confusão entre si e entre os demais que de fato conhecem o rosto por trás da máscara.
Michel Foucault em sua obra “As palavras e as coisas” cita a obra de Cervantes “Don Quixote”, onde o protagonista acaba por confundir-se com a máscara que cria e passa a viver a mesma com toda a convicção de que vive uma verdade: “Assemelhando-se aos textos de que é testemunho, o representante, o real análogo, Dom Quixote deve fornecer a demonstração e trazer a marca indubitável de que eles dizem a verdade, de que são realmente a linguagem do mundo.” De fato, carregar uma máscara social é um fardo pesado e não há humano que não carregue alguma.
Somos criados desde a infância com a cultura de que os demais seres humanos não são confiáveis, e os demais seres humanos também ouvem o mesmo dentro e suas casas desde seus leitos maternos, o que gera um ciclo imenso de máscaras para proteção e máscaras para dissimulação. Novamente segundo Pavis: “A máscara deforma propositalmente a fisionomia humana, desenha uma caricatura e refunde totalmente o semblante.”, temos então, uma geração de humanos deformados por máscaras criadas dentro de suas casas dentro de sua tenra infância, aliás, o momento em que se deixa de ser criança é exatamente o momento em que começamos a levar a sério nosso fingimento com o pretexto da máscara.
Somos então as mais belas e fascinantes criaturas de todo o mundo, desde que, o humano saiba e tenha a coragem de assumir o que tem por baixo de sua máscara que o deforma ou na melhor das hipóteses que encontre um grupo ou pessoa que tenha a perfeita distinção de onde termina a máscara social e onde começa o ser humano, o que é um trabalho válido, pois quanto mais máscaras por cima da personalidade do indivíduo, mais intocada e pura vai ser a pele do ator que a veste.

Bibliografia:
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Martins Fontes, 8° edição 3° tiragem. São Paulo 2002. Tradução Salma Tannus Muchail.

PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Perspectiva, 3° edição. São Paulo 2007. Tradução J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira.

Deus como forma de si e além de si.



O que ou quem é o Deus cristão? Um senhor de barbas longas, todo poderoso, todo benevolente e que sabe quem tão as boas e as más pessoas? Sinto informar que este é o Papai Noel. Uma representação metafísica de tudo aquilo que é bom, justo, honesto, amoroso, mas que te manda para o inferno se não for amado de volta? Um tanto quanto infantil esse conceito de Deus. Então vamos deixar um pouco de lado essas visões distorcidas de Deus e vamos examinar livre do escopo da religião a origem do nascimento do divino dentro do conceito humano.
Em primeiro lugar: se existe em algum lugar um deus metafísico, a razão humana ainda não está pronta para entendê-lo em sua infinita forma. Religiões nasceram e morreram em toda e qualquer localidade do mundo onde o homem tenha se estabelecido, em muitas delas, deus é figura metafísica, inatingível, inalcançável, ininteligível para a maioria dos humanos, salvo raras exceções, como por exemplo, na passagem em que o Moisés bíblico pode ouvir a revelação divina de modo direto, em outras sociedades tivemos o deus físico, como os deuses helênicos que diversas vezes apreciavam interagir com os mortais, criando meio-deuses, bestas e feras a partir dessas interações. Entre as sociedades onde deus não se manifesta diretamente, temos diferenças nos modos que se entendem os mesmos, por exemplo, o deus judaico é o deus do povo escolhido, é claramente um deus restritivo e severo, entretanto o deus cristão é o deus do amor, redenção e privação, apesar dos mesmos possuírem raízes em comum (o próprio povo cristão é descendente do povo judeu, a cisão se dá no momento da vinda de Jesus, onde o povo judaico não aceitou que seu rei encarnasse na forma de um aldeão, desse ponto em diante Jesus é o rei apenas do ponto de vista dos humildes, enquanto os judeus ainda esperam por seu rei), demonstrando que o deus metafísico não foi entendido por completo, seja pela razão, seja pela fé, logo, a razão humana ainda não é capaz de o entender caso o mesmo exista ou em um olhar mais pessimista poderíamos afirmar que a razão humana jamais vai ser capaz de entender um conceito metafísico tão abstrato quanto deus pode vir a ser. Se pensarmos nas religiões holísticas como o xamanismo, o neo-paganismo, helenismo (no caso do mito de Gaia, onde a mesma é a Terra em si) e demais frutos da filosofia Celta (povo que viveu em diferentes tribos no leste europeu aproximadamente no século VI a.C segundo o historiador grego Hecateu de Mileto em trechos de sua obra, a qual só restaram poucos fragmentos), deus está em todos os lugares e estamos o vendo em tudo a todo o momento, seria essa uma forma de incapacidade de entender a metafísica ou uma solução quanto a mesma, com o deus encarnado em tudo, fazendo parte de sua criação de modo que o mesmo se encarna em todos os aspectos da mesma?
Mas por qual motivo deus é tão cultural? Por qual razão o encontramos metafisicamente em determinada cultura e fisicamente em outra? Por qual razão ele é o deus restritivo e severo em uma religião e um deus de amor e redenção na mesma vertente? Então vamos examinar o conceito de deus em si dentro da filosofia de Feuerbach em sua obra “Essência do Cristianismo” e tentar chegar filosoficamente a algumas respostas.
A essência divina muda conforme a cultura em que deus é inserido, deus é um ato cultural, seria deus o criador de seu povo, ou seria o povo criador de seu deus? Segundo Feuerbach, a essência de deus é reflexo da própria essência humana. O que o homem tem de melhor de si, foi projetado em seu deus, o que melhor o homem tem na cultura cristã é seu amor, logo o deus cristão é puramente amor. Esse espelho da própria razão e qualidades humanas moldou cada deus conforme a própria necessidade humana, por exemplo, a Cidade-estado de Esparta em plenos tempos do império grego. Sabemos que a cultura espartana foi baseada completamente na cultura do combate, do culto a guerra, Esparta seria o braço forte da Grécia se os estados fossem unificados, um bom exemplo da força Espartana é dado na “Batalha das Termópilas” em 480 a.C, onde os espartanos com aproximadamente 300 espartanos, 700 téspios e 400 tebanos, protegeu durante sete dias inteiros o desfiladeiro de Termópilas contra diversas investidas Persas, por basear-se na força de combate acima de qualquer outro estudo (Esparta nunca desenvolveu uma tradição filosófica como as demais cidades-estado da colônia helênica), o deus cultuado, adorado e seguido foi Ares, um dos filhos de Zeus e uma perfeita inspiração e reflexo do guerreiro perfeito, nada mais é a figura de Ares do que então uma personificação do sentimento espartano de superioridade a parti da força de seus guerreiros, ou seja, uma imagem refletida e ampliada de certo contexto de modo a inspirar esse contexto em específico, já na capital ateniense, temos o culto a deusa Atena, deusa da sabedoria e em algumas tradições, dos aspectos justos da guerra, Atenas foi um pólo do pensamento Grego, logo, sua deusa mór é baseada nesses aspectos. No Norte europeu podemos notar melhor essa essência humana projetada no divino em sua filosofia, os povos Vikings dos países gelados moldaram toda sua religião a partir das batalhas, a honra para eles é a de se morrer em batalha para chegar a Valhalla, onde se está próximo aos deuses guerreiros e sua eternidade vai ser comemorar e lutar ao lado dos demais grandes guerreiros que mereceram a imortalidade por demonstrar bravura em vida.
Deus é então essa projeção da essência de um coletivo em uma figura específica. Deus não é ruim, se existe algo de errado com Deus, existe então algo de errado com sua humanidade. Se o deus cristão é todo um infinito de amor, é sinal de que o amor é o melhor que a humanidade tem a oferecer. Temos ai então um possível problema... Se deus é a perfeição da palavra humanidade, seria uma blasfêmia pensar em ser o melhor possível para um ser ser humano? Digo então que em qualquer que seja o dogma ou religião, a blasfêmia mora no pensamento de que a perfeição é apenas possível na figura divina e que o papel do ser humano é justamente o de ser imperfeito usando como desculpa moral o dogma de que é blasfemar desejar ser perfeito como deus. Deus é parte da própria qualidade humana, então o humano tem um pedaço de deus dentro de si e enquanto acreditar em sua própria essência divina haverá a capacidade de ser seu próprio deus e viver dentro daquilo que tem de melhor de si, independente deste ou daquele dogma que estabelece que vivendo deste ou daquele modo vá se ganhar esta ou aquela recompensa divina, pois a recompensa divina vai ser seu próprio sentimento recompensado independente de influências externas.

Bibliografia. 
essência do cristianismo / Ludwig Feuerbach; tradução e notas de Jose da Silva Brandão  Petropolis, RJ : Vozes, 2007

sábado, 1 de dezembro de 2012

Quarto 180.


Não quis te dizer
mas esse estomago sulfuroso
e esse coração idiota
brigaram feio quando viram seu corpo nu.

Achei que fosse morrer
o que seria digno na velha Augusta.

Estou ficando velho,
estou ficando careta,
ou estou sentindo um péssimo passado recente manifestar-se.

Um mendigo cuspiu na minha cara
não achei ruim
achei foi bem merecido,
o agradeci.

Patético cara!

Vai la filho da putinha.
Você só quer uma noite dentro de uma vagina bem quentinha não é?
Não é?
Ah cara...

Seu péssimo hábito de não mentir,
obrigado rapaz!
Você finalmente entendeu o que tem de melhor dentro de si.

Ah maldição... Entregue pelo coração!


Debaixo de um céu azul-escarlate,
sobre uma terra seca,
entre abraços sem calor,
beijos sem gosto,
promessas sem valor,
esperava por algo em um tédio infinito.

Um "olá" trocado a distância entre olhos tímidos
um abraço ainda envergonhado
uma surpresa positiva afinal.

"Haha, é maior do que pensei,
mas é agradável."

Sob o mesmo céu azul-escarlate pude te admirar,
rir de seus trejeitos,
me ver em ti,
te ver em mim.

Onde foi que esteve todo esse tempo?
Porque se escondeu de mim?

Um reflexo teu no fundo do copo
Um reflexo meu em um guardanapo.
Um longo abraço.
Um sinal?
Um difícil beijo.
Dezenas de detalhes.
Um coração que entrega minha alegria!

"Ah maldição...
Entregue pelo coração!"

Um beijo singelo, porém carinhoso,
um abraço
e sua figura distraída atrás da porta que se fecha,
tivemos definitivamente uma primeira boa tarde.
Um bom motivo para sorrir.