quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Estou cansada dessa merda.



Eu não sou assim.
Eu não sou legal.
Eu não faço parte desse mundinho de gente que sorri.
Quando sorrio é para driblar as perguntas que me levam ao desespero.
Só preciso de um minuto a sós com esse chamado deusinho que me colocou no mundo.
Dois minutos longe de todos vocês que são sim, responsáveis por isso.
Uma vida longe de mim,
O drogado que alimenta e gosta disso.

Sim. Eu gosto de morrer.
Bem devagar.
Divagando.
Bem
De
Vagar.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Não me chame para a selfie, não estou e nem sei sorrir. Não proclame sua felicidade forjada perto de mim, sinto o cheiro do desespero em suas mentiras e precipitações.
E cá entre nós. Nunca farei parte desse mundinho de Barbies e Rambos, gente que não existe.
Eu vivo em cada segredo e confissão ditas pelo alcool, drogas e tesão.
Eu sou a puta barata na esquina da Consolação pela manhã, com a bolsa cheia de esmolas, a boca cheirando a cigarros, gin com tônica e látex.
Quero o imundo, o escatológico, o podre, o marginal.
Menos dos Campos Elísios, mais da Tiradentes. Menos da Tiradentes, mais da Roosevelt. Menos do ego, mais do poético.
Menos do ego, meus amigos. Menos do ego.

Infusão


Janelas idiotas.
Deixam a luz passar mas não o ar.
Afogam-me.
Engraçado.
Os mesmos remédios que mantém minha cabeça longe do pneu do ônibus,
podem me fazer dormir por tempo indeterminado, conforme sua fé ou falta dela.
Não há lugar para mim no seu reino de anjos e gente virgem.
Tão pouco no inferno de pessoas como eu e você.
O inferno é aqui e nada me espera depois disso. Nada.
E é esse o alívio.
Perdi tempo demais lendo livros que me ensinaram a dar tudo de mim.
O segredo é sorrir!
Ainda que tenha vontade de dar uma marteladinha na cara de quem muito sorri e ver sua expressão caindo em cacos.
Eu sei onde mora a lágrima, ah se sei.
Não aprendi a viver, sequer aprendi a única coisa que sei fazer direito.
Não sei lidar com isso,
nunca soube.
Não vou conseguir.
Não tem problema.
Não vou acordar.
De cacos, todos somos mármore,
essa xícara não aguentou.
Não gosto de chá quente demais.

Tudo é jazz.


É isso.
Os remédios não funcionam.
A bebida nunca funcionou
e os cigarros acabaram.

Aqui do quarto andar seus problemas parecem menores, mais indolores, é só cortar uma cordinha, uma quedinha, alguns ossos quebrados e pronto. Silêncio. O som de choro, essa é a vizinha de cima, meus problemas só não parecem menores que os do vizinho de cima que bate em sua esposa quando quer descontar sua própria lamúria, ou o outro vizinho, o que toca sax as oito da manhã, esse sabe viver, acorda cedo sonhando com o dia em que vai passar todas as noites em claro, tão bêbado e drogado que não vai lembrar de quem é a cabeleira em seu travesseiro ao acordar. Esse é o Jazz.

Eu só bebo as vezes.

Por falar em vizinhos, moro em frente a mais três prédios, todos com as janelas viradas para dentro, todo mundo compartilhando sua intimidade em sua janela. Eu venho para a janela para escrever, tem quem venha transar, tem quem só vem a janela para as incessantes faxinas que sempre ocorrem antes de se acender a luz vermelha. E tem aquela galera da igreja, que vem rezar todos os finais de semana por todas as nossas almas, com seus aparelhos de som que podem ser ouvidos claramente da minha cama ou da cama da minha mãe, ou da cama da minha avó, ou da cama da puta que nos pariu.

O sangue de Jesus tem poder. Pois venha logo, leve todo mundo para o paraíso e nos deixe aqui de boas. Esse é o céu. No meio da nossa sujeira. Nossa, muito nossa.

Mas tudo isso é segredo. Ninguém precisa saber que eu venho para a janela para chorar quando não há ninguém em casa.