sábado, 10 de dezembro de 2016

Eu não sou assim. Eu quero morrer. =)

      

    Eu uso drogas. Todas prescritas, todas caras. Receitas azuis que ficam retidas com o farmacêutico,
ele sempre me olha torto a cada inicio de mês quando vou comprar os remédios logo após as consultas com a psiquiatra. Não é culpa dele. Olhos inchados, olheiras, cabelos arrepiados e sujos, eu pareço um artista comum ou uma pessoa muito estranha, em fato, cada dia mais pareço uma árvore doente, acho que vou ficar parado na esquina até criar raízes; pombos nojentos cagarem na minha cabeça; playboys com suas cabeças infladas de ego e farinha vierem perguntar se sou eu que estou passando; idiotas, se eu estivesse passando não teria só duas bermudas na gaveta, ambas rasgadas por minha coxas enormes e flácidas que só servem para amassar meu saco dentro da minha única calça jeans. 

   Enfim... Eu não posso beber, um bom e velho hábito, mais bom que velho, caso eu beba os remédios supostamente ficam potencializados e podem vir a causar uma overdose, teoricamente, claro. Não posso misturar outras drogas e a nojenta da psiquiatra insiste todo mês em perguntar: Mas você já usou drogas? NÃO, SUA PUTA! Dai faço cara de paisagem e respondo com um "não" quase inaudível, como tudo que sai da minha boca. Sussurros, suspiros, ensaios de um devir que nunca virá a ser. Exatamente como eu. Nunca virei a ser.

   Como dizia, eu uso drogas. Odeio cada uma delas, sempre odiei. Só de pensar no próximo comprimido, na próxima troca de dosagem, eu quero enfiar as mãos na minha boca e me rasgar de dentro pra fora, eu quero gritar, quero cuspir sangue, vomitar.

    Essas duas últimas semanas eu deixei o horário de cada droga atrasar por duas horas. Eu sequer conseguia levantar o dia todo e cada dia era muito pior que o outro e mesmo esses dias não eram nada comparados as duas horas em que deveria ter tomado os comprimidos farinhentos e amargos.

    As vezes eu fico tão dopado que saio sorrindo pela rua, dando bom dia, respondendo as idiotices que as pessoas falam. Chego até a esquecer como é um dia ruim.

Eu não me reconheço nisso.

    Esse não sou eu. Eu sempre fui escravo de putas velhas e desdentadas, acho que eu gosto desse cheiro de pinga e suvaco no beijo delas. Atualmente a depressão é a puta que manda em mim. Não sei se foi culpa das demais ou se sempre foi ela que me fez o que sou.

Eu não sou assim.
Eu quero morrer.

=)

domingo, 27 de novembro de 2016

Se tu prescrevesses.


São quatro drogas
Duas são parecidas
mas não podem ser trocadas

Veneno para dormir,
veneno para acordar
veneno para dormir para sempre
Veneno.

Continuo com nojo do espelho
os remédios não funcionam
são paliativos
impedem que eu me mate
prolongam a dor
Até a sua morte tem de ser protocolada
nem minha própria vida me pertence
Pertence as jovens residentes de qualquer Santa Casa
uma por mês, uma mais linda que a outra
só uma se importou o suficiente,
foi mandada embora.

Tive medo.
Tenho.
Terei.


domingo, 26 de junho de 2016

De um ator sem talento à Dionísio.


Nos andamos juntos por uns bons pares de anos.
Você me salvou da solidão certa
eu te salvei do ostracismo, da mesmice,
de todos que fazem mal uso de seu nome.

Estudei-te, fui teu
e você foi meu bem mais precioso.

Mas você está me enlouquecendo.
Eu não sei aonde foi que nos perdemos,
onde foi que você se vendeu 
enquanto eu te reverenciava sagrado.

Mas agora você parece só "um rolê"
e só ama quem é dos seus
e eu te amo.

Você se vendeu
Não posso te pagar.
Fechem as cortinas.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Eu tenho nojo de mim.



Daqueles dias mais cruéis que aquele pé na bunda que você tomou quando tinha doze anos e nem sabia ainda o gosto que uma boca cheia de glitter cor de fanta pode ter.

-Eu quero mais é que você se foda, seu cu pegue fogo e tentem apagar com querosene.
- Mas eu só preciso de atenção.

Toma ai tua atenção, todo mundo está de olho em você, todo mundo se preocupa, até te ver cuspindo seu fígado preto, fétido, cheio de pus e rancor. Eu quero mais, quero é o estrago, quero saber até onde essa cabeça doente chega.
Verdadeiramente não importa meu estado. O que importa é que esteja conforme o julgamento daqueles que julgam ser capazes e dignos de julgar. Ninguém se importa e é engraçada a maneira humilhante a qual eu pateticamente peço ajuda.

Um sorriso idiota, uma piada forçada que ninguém acha graça.

- Ele voltou ao normal, podemos fingir agora que nada disso aconteceu.
Mas aconteceu. E acreditem amiguinhos, ainda está acontecendo, minha cabeça jamais vai perdoar ninguém, principalmente a mim mesmo, meu pior inimigo, o maior fracassado, perdedor, patético ser humano que já existiu.

Sim, tudo que sinto por minha existência é o mais puro e mais sincero ódio que se pode sentir. Não é sua raivinha, não é seu ciuminho, tenho é nojo de sua raivinha estou certo do seu charminho e mais certo ainda da vontade de vomitar quer sinto toda vez que olho no espelho e me deparo com essa cara inchada, que mais parece um defunto de alguém que bebeu  a vida toda, foi jogado no  mar e foi finalmente rejeitado pelos camarões. Desse corpo nojento, que não cabe em lugar nenhum, em corpo algum, tudo isso sobrando e eu perdido, quase sufocado em si mesmo.
 Quero me matar com bebidas e drogas pois sou covarde demais para me jogar do quarto andar e acabar com isso só com um friozinho na barriga e um leve estalo no chão com sangue voando para todos os lados. Eu não quero acordar respirando amanhã, é simples assim.

 A saúde é uma ilusão que nós, doentes imundos temos em relação a vocês, pessoas tão perfeitas, tão donas de si, tão melhores do que eu. Tão melhores, não fazem ideia do quanto é seu direito pisar na minha cabeça e cuspir na minha cara o quanto seus corpos e suas mentes fazem amor entre si e com outras mentes.

Vocês realmente não fazem ideia da benção que lhes foi concedida pelo mesmo deus que sequer existe e ri de mim todas as noites enquanto enche minha cabeça de pesadelos e lembranças. Não fazem a menor ideia do que significa a palavra doença.

Quanto a mim. Vou pregar um sorriso bem grande na minha cara com um grampeador e amanhã, todos aqueles que tanto têm a certeza do julgamento vão olhar e mais uma vez:


- Ele voltou ao normal, podemos fingir agora que nada disso aconteceu.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Deixe-me dormir.



Ela me deu e tirou tudo.
Deu apenas o que sempre foi meu,
essa poesia e esse blues.

Pintei o nariz, as mãos e os olhos,
mas seu fantasma sempre mal enterrado está lá.
E você vai me levar.

De volta a nosso lar.
Nosso delicioso beiral do quarto andar.
É lá que minha intima e sufocante dama vai estar.

A dama de meus pesadelos favoritos.

Mas eu estou bem.
Estou me aguentando.
Não vou fazer isso hoje.
Preciso de ajuda...

sábado, 19 de março de 2016

Animal defeituoso.




Vá se tratar!

Todas elas me gritaram ao fim de cada noite perdida. De cada noite sozinho. Sozinho em multidão.Ah, como isso é cruel. Gente que grita demais para se convencer que não vão morrer sozinhos. 

Minha mãe me ensinou a não falar com a boca cheia de certezas. É nojento. Cuspam ou engulam esse ego antes de falar.

Não existe lugar para gente como eu na sociedade. A depressão é uma doença de gente rica. Terapias e remédios custam tempo e dinheiro. Não tenho nada disso disponível. A nós pobres, só nos resta a bebida e o suicídio, cada qual também requintado conforme seu dinheiro se dispõem. 

Vocês todas, jovens putas, frescas e bêbadas, cobram-me para que eu esteja bem, feliz e produtivo todos os dias Cobram-me para que eu enfie na cara o mesmo sorriso de desespero que todas vocês ostentam, o mesmo sorriso que todo suicida da na sua ultima talagada de conhaque. Eu cobro-me para resistir a tentação de me jogar debaixo do metrô todos os dias. Mas não mais. Nunca mais. Sem a velha nóia, sem preocupação, sem dor, sem arrependimentos, sem humilhantes lágrimas. Humilhantes.

E por fim, eu me recuso a viver em um mundo tão perverso que te julga e te apedreja por ser fraco aos olhos do belo. Despeço-me aqui. Animal defeituoso que sou, peço desculpas pela bagunça.