segunda-feira, 28 de março de 2016

Deixe-me dormir.



Ela me deu e tirou tudo.
Deu apenas o que sempre foi meu,
essa poesia e esse blues.

Pintei o nariz, as mãos e os olhos,
mas seu fantasma sempre mal enterrado está lá.
E você vai me levar.

De volta a nosso lar.
Nosso delicioso beiral do quarto andar.
É lá que minha intima e sufocante dama vai estar.

A dama de meus pesadelos favoritos.

Mas eu estou bem.
Estou me aguentando.
Não vou fazer isso hoje.
Preciso de ajuda...

sábado, 19 de março de 2016

Animal defeituoso.




Vá se tratar!

Todas elas me gritaram ao fim de cada noite perdida. De cada noite sozinho. Sozinho em multidão.Ah, como isso é cruel. Gente que grita demais para se convencer que não vão morrer sozinhos. 

Minha mãe me ensinou a não falar com a boca cheia de certezas. É nojento. Cuspam ou engulam esse ego antes de falar.

Não existe lugar para gente como eu na sociedade. A depressão é uma doença de gente rica. Terapias e remédios custam tempo e dinheiro. Não tenho nada disso disponível. A nós pobres, só nos resta a bebida e o suicídio, cada qual também requintado conforme seu dinheiro se dispõem. 

Vocês todas, jovens putas, frescas e bêbadas, cobram-me para que eu esteja bem, feliz e produtivo todos os dias Cobram-me para que eu enfie na cara o mesmo sorriso de desespero que todas vocês ostentam, o mesmo sorriso que todo suicida da na sua ultima talagada de conhaque. Eu cobro-me para resistir a tentação de me jogar debaixo do metrô todos os dias. Mas não mais. Nunca mais. Sem a velha nóia, sem preocupação, sem dor, sem arrependimentos, sem humilhantes lágrimas. Humilhantes.

E por fim, eu me recuso a viver em um mundo tão perverso que te julga e te apedreja por ser fraco aos olhos do belo. Despeço-me aqui. Animal defeituoso que sou, peço desculpas pela bagunça.