quinta-feira, 14 de abril de 2016

Eu tenho nojo de mim.



Daqueles dias mais cruéis que aquele pé na bunda que você tomou quando tinha doze anos e nem sabia ainda o gosto que uma boca cheia de glitter cor de fanta pode ter.

-Eu quero mais é que você se foda, seu cu pegue fogo e tentem apagar com querosene.
- Mas eu só preciso de atenção.

Toma ai tua atenção, todo mundo está de olho em você, todo mundo se preocupa, até te ver cuspindo seu fígado preto, fétido, cheio de pus e rancor. Eu quero mais, quero é o estrago, quero saber até onde essa cabeça doente chega.
Verdadeiramente não importa meu estado. O que importa é que esteja conforme o julgamento daqueles que julgam ser capazes e dignos de julgar. Ninguém se importa e é engraçada a maneira humilhante a qual eu pateticamente peço ajuda.

Um sorriso idiota, uma piada forçada que ninguém acha graça.

- Ele voltou ao normal, podemos fingir agora que nada disso aconteceu.
Mas aconteceu. E acreditem amiguinhos, ainda está acontecendo, minha cabeça jamais vai perdoar ninguém, principalmente a mim mesmo, meu pior inimigo, o maior fracassado, perdedor, patético ser humano que já existiu.

Sim, tudo que sinto por minha existência é o mais puro e mais sincero ódio que se pode sentir. Não é sua raivinha, não é seu ciuminho, tenho é nojo de sua raivinha estou certo do seu charminho e mais certo ainda da vontade de vomitar quer sinto toda vez que olho no espelho e me deparo com essa cara inchada, que mais parece um defunto de alguém que bebeu  a vida toda, foi jogado no  mar e foi finalmente rejeitado pelos camarões. Desse corpo nojento, que não cabe em lugar nenhum, em corpo algum, tudo isso sobrando e eu perdido, quase sufocado em si mesmo.
 Quero me matar com bebidas e drogas pois sou covarde demais para me jogar do quarto andar e acabar com isso só com um friozinho na barriga e um leve estalo no chão com sangue voando para todos os lados. Eu não quero acordar respirando amanhã, é simples assim.

 A saúde é uma ilusão que nós, doentes imundos temos em relação a vocês, pessoas tão perfeitas, tão donas de si, tão melhores do que eu. Tão melhores, não fazem ideia do quanto é seu direito pisar na minha cabeça e cuspir na minha cara o quanto seus corpos e suas mentes fazem amor entre si e com outras mentes.

Vocês realmente não fazem ideia da benção que lhes foi concedida pelo mesmo deus que sequer existe e ri de mim todas as noites enquanto enche minha cabeça de pesadelos e lembranças. Não fazem a menor ideia do que significa a palavra doença.

Quanto a mim. Vou pregar um sorriso bem grande na minha cara com um grampeador e amanhã, todos aqueles que tanto têm a certeza do julgamento vão olhar e mais uma vez:


- Ele voltou ao normal, podemos fingir agora que nada disso aconteceu.